O mundo está vivendo uma convulsão política e social. Políticos neofascistas são eleitos em processos corrompidos por fake news, o povo vai às ruas e as democracias começam a mostrar que não são regimes perfeitos. Pelo contrário: assim como um organismo vivo, tem a juventude, a maturidade e a velhice. Hoje, estamos na última fase.
E é sobre este tema que se debruça o documentário O Paradoxo da Democracia, de Belisário Franca. O cineasta, ao longo de 76 minutos, procura encontrar razões teóricas e racionais sobre os movimentos populares, sociais e econômicos que eclodem em todo o mundo. Obviamente, não há uma razão só. Mas tudo aponta para o tal paradoxo.
“Tive esse ideia há oito anos, quando comecei a sentir uma inquietação com relação à democracia”, afirma o cineasta Belisário Franca em entrevista ao Esquina. “Eu não queria levar apenas um lado para a tela. Não queria ficar restrito numa visão americana ou europeia. A ideia era expandir ao máximo o assunto para poder causar uma reflexão”.
A complexidade do tema, é claro, não cabe em pouco mais de uma hora de projeção — há muitas variáveis, muitas volatilidades, muitos envolvidos. Assim, Belisário não busca terminar o tema dentro de seu próprio filme. Vai além. O que ele faz, em O Paradoxo da Democracia, é sugerir uma reflexão acerca de movimentos passados e presentes.
Além disso, nada de prever o futuro ou fazer elucubrações de qual sistema político pode substituir a democracia. Não há, afinal, nada de novo no front. Por isso, a partir da reflexão causada por entrevistas e resgates de arquivo, Belisário constrói pensamentos e instigações para que o espectador tente sair da caixinha. Pensar é o norte deste filme.
“Ficarei feliz se o espectador sair do filme com um senso crítico”, afirma o diretor, que também comenta questões estéticas. “Para isso, primeiramente, pegamos imagens de manifestações que falam por si só. O objetivo era colocar o espectador dentro delas. Depois, fechamos a imagem da tela nos entrevistados. O que importa ali são as ideias”.
E para Belisário, como esse filme e tanto outros que tratam do complicado processo político atual vão se comportar no futuro? O Mês Que Não Terminou, Junho, O Processo, Excelentíssimos e, é claro, O Paradoxo da Democracia? “Falar no calor dos momentos é complicado. Mas, depois, eles darão uma pista do que houve aqui”.
Agora, a expectativa fica com o alcance do filme e a forma como ele pode impactar a sua audiência — na sessão da Mostra, o público se mostrou muito receptivo com o longa. A estreia está marcada para março nos cinemas. “Estamos trabalhando de forma ampla. E queremos levar o filme para além do circuito”, diz. “Queremos reflexão para todos”.
(*) Filme visto durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.